O número de casos de coqueluche aumentou mais de 1.000% apenas em 2024, em comparação com o ano anterior, no Brasil. A maior parte dos registros está nos estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal, segundo dados do Ministério da Saúde. Só na capital paulista, a alta foi de 3.436% em relação a 2023, segundo boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS-SP).
Segundo a infectologista Rosana Richtmann, consultora de vacinas do Delboni, um dos principais fatores para esse aumento é a queda da cobertura vacinal. “Toda vez que temos uma redução na cobertura vacinal em uma doença com alta contagiosidade, acabamos tendo bolsões de pessoas suscetíveis [a ter a doença] e que acabaram não fazendo o reforço na vacinação”, explica.
No Brasil, a doença atinge principalmente a população branca (48%), seguida pela população parda (33%). No entanto, 15% dos casos não possuem informações sobre raça/cor.
Uma preocupação dos especialistas é em relação às gestantes, que devem receber uma dose da vacina tríplice bacteriana (DTP) a partir da 20ª semana de gestação. “Temos alguns dados mostrando que praticamente 50% das gestantes são vacinadas. Isso tem um reflexo muito grande no risco de um recém-nascido nascer sem essa proteção. A única solução para isso é o incentivo e a orientação da vacinação da gestante”, acrescenta a especialista.
Outro ponto analisado pela infectologista é o próprio curso da doença. “A coqueluche é uma doença infecciosa de alta contagiosidade que, tradicionalmente, aparece em situações de surto a cada ciclo de 5 a 8 anos. Então, como o último ciclo foi em 2014, já era de se esperar que, em algum momento, íamos ter um aumento no número de casos”, diz Richtmann.
A especialista acrescenta, ainda, que o maior acesso a testes de diagnóstico da doença, principalmente entre a população que possui maior acesso a laboratórios privados, facilita a maior detecção de casos da doença. “Se você ver os números em São Paulo, o aumento real dos casos está relacionado a adolescentes brancos que moram em regiões nobres da cidade, ou seja, têm acesso ao diagnóstico”, explica.
Por outro lado, em uma parte da população com menor acesso aos testes, há o atraso na detecção da doença, o que aumenta o risco de transmissão e, consequentemente, leva ao aumento dos casos.
Brasil também registra maior letalidade da doença
A letalidade por coqueluche é a maior desde 2019, chegando a 0,45% das notificações. Entre 2021 e 2023, o país não registrou nenhum óbito pela doença. O maior índice da doença nos últimos dez anos foi em 2014, quando a infecção matou 1,4% dos casos.
“A coqueluche, tradicionalmente, tem maior letalidade nos pequenos, nos menores de um ano de idade e nos menores de seis meses”, explica Richtmann. “Novamente, se há um atraso no diagnóstico, você atrasa o tratamento com antibióticos, fazendo com que essa criança fique muito mais vulnerável a ter um quadro mais grave da doença, principalmente se ela não tem a proteção vacinal oferecida pela imunização da mãe durante a gestação”, acrescenta.
O que é coqueluche?
A coqueluche é uma infecção respiratória causa pela bactéria Bordetella pertussis. Ela causa sintomas como crises de tosse seca, além de febre, mal-estar geral, coriza e, em alguns casos, vômitos e dificuldade para respirar.
A transmissão da coqueluche ocorre, principalmente, pelo contato direto da pessoa doente com uma pessoa não vacinada por meio de gotículas eliminadas pela tosse, espiro e fala, segundo o Ministério da Saúde. Em alguns casos, o contágio pode acontecer por meio de objetos contaminados com secreções de pessoas doentes, mas é menos frequente.
O período de incubação da bactéria, ou seja, o tempo que os sintomas começam a aparecer desde o momento da infecção, é de, em média, 5 a 10 dias podendo variar de 4 a 21 dias e, raramente, até 42 dias.
O diagnóstico é feito através de testes que isolam a bactéria em material colhido na nasorofaringe, analisado pela técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) em tempo real. Alguns exames complementares, como hemograma e raio-x de tórax.
Entre as principais complicações causadas por casos graves de coqueluche estão infecção de ouvido, pneumonia, parada respiratória, desidratação, convulsão, lesão cerebral e, até mesmo, morte. Em crianças, principalmente as menores de seis meses, as complicações tendem a ser mais graves.
Vacinação é a principal forma de prevenção da coqueluche
A vacinação é o principal meio de prevenção da coqueluche. O Ministério da Saúde orienta que crianças de até seis anos, 11 meses e 29 dias sejam vacinadas contra a doença. Vacinas específicas para gestantes e profissionais da saúde que atuam em maternidades e em unidades de internação neonatal são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Ainda segundo a pasta, uma pessoa se torna imune à doença em duas situações:
- Ao adquirir coqueluche (a imunidade é duradoura, mas não é permanente);
- Pela vacina, com mínimo de três doses com a pentavalente (DTP, que protege contra difteria, tétano e coqueluche, mais Hib e hepatite B), com um reforço aos 15 meses de idade e outra dose aos 4 anos de idade com a DTP. Gestantes devem receber a dose da vacina do tipo adulto (dTpa).
*Com informações de Beto Souza, da CNN