Pequenos fragmentos e fibras de plástico foram encontrados no tecido nasal de cadáveres humanos, de acordo com um novo pequeno estudo brasileiro publicado no JAMA Network Open na segunda-feira (16). Os fios e pedaços de microplástico foram descobertos no bulbo olfatório, a parte do nariz responsável por detectar odores, localizada na base do cérebro.

“Uma vez presentes nessa estrutura, pode haver translocação para outras regiões do cérebro”, diz o autor principal do estudo, Luís Fernando Amato-Lourenço, pesquisador de microplásticos na Universidade Livre de Berlim, em um e-mail. “A translocação depende de vários fatores, incluindo a forma da partícula, se é uma fibra ou um fragmento, seu tamanho e os mecanismos de defesa do corpo.”

Devido ao tamanho e à forma menores, segundo Amato-Lourenço, as partículas são mais propensas do que as fibras a ultrapassar as células da micróglia na barreira hematoencefálica, uma membrana que protege o cérebro e a medula espinhal de muitas substâncias nocivas.

“Este é um estudo muito interessante”, afirma Phoebe Stapleton, professora associada de farmacologia e toxicologia na Universidade Rutgers, em Piscataway, Nova Jersey, que não esteve envolvida no estudo. “Não estou realmente surpresa”, acrescenta. “Acredito mesmo que os plásticos estarão em todas as partes do corpo que investigarmos. Isso é apenas mais uma evidência.”

Quando se trata de estudos sobre plásticos e saúde humana, “há um debate na comunidade científica sobre se o corpo de evidências atual reflete suficientemente as implicações do mundo real”, de acordo com Betsy Bowers, diretora executiva da EPS Industry Alliance, uma associação comercial da indústria de poliestireno expandido.

“A falta de consenso decorre da garantia de qualidade suficiente, envolvendo questões como definições de nanoplásticos, precisão e viés das metodologias de teste, relações dose-resposta e avaliações de risco versus exposição”, diz Bowers em um e-mail.

O crescente acúmulo de plástico no corpo

Uma série de estudos recentes descobriram microplásticos e nanoplásticos no tecido cerebral humano, nos testículos e no pênis, no sangue humano, nos tecidos dos pulmões e do fígado, na urina e fezes, no leite materno e na placenta.

Na primeira análise que ilustra danos à saúde humana, um estudo de março descobriu que pessoas com microplásticos ou nanoplásticos nos tecidos da artéria carótida tinham o dobro de chances de sofrer um ataque cardíaco, derrame ou morrer de qualquer causa nos três anos seguintes, em comparação com pessoas que não tinham.

Tais partículas minúsculas podem invadir células e tecidos em órgãos importantes, dizem especialistas, potencialmente interrompendo processos celulares e depositando produtos químicos disruptores endócrinos, como bisfenóis, ftalatos, retardantes de chama, substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas (PFAS) e metais pesados.

“Os produtos químicos podem ser transportados para o fígado, os rins e o cérebro e até atravessar a barreira placentária, chegando a um feto em desenvolvimento”, diz Sherri “Sam” Mason, diretora de sustentabilidade da Penn State Behrend, em Erie, Pensilvânia, em uma entrevista anterior à CNN Internacional. Ela não esteve envolvida no novo estudo.

Incapaz de ver as menores partículas

O novo estudo encontrou microplásticos nos bulbos olfativos de oito de 15 cadáveres, com tamanhos variando de 5,5 micrômetros (0,000217 polegadas) a 26,4 micrômetros (0,001039 polegadas). Para comparação, um fio de cabelo humano tem cerca de 80.000 nanômetros de largura, ou 0,00315 polegadas, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.

Devido ao tipo de análise utilizada, o estudo não conseguiu detectar nanopartículas, que são mil vezes menores que a largura média de um fio de cabelo humano. Mesmo assim, as dimensões dos plásticos encontrados nos bulbos olfativos dos cadáveres eram “muito menores do que as de vários outros estudos que determinaram a presença de microplásticos em órgãos humanos, como a placenta, rins, fígado, etc.”, diz Amato-Lourenço.

O estudo não conseguiu determinar a fonte de exposição ou por que alguns dos falecidos apresentavam evidências de plásticos no nariz, enquanto outros não, disse ele.

“O que sabemos a partir de estudos publicados na literatura é que, quando há inflamação local da mucosa (revestimento da cavidade nasal), pode ser mais fácil para os microplásticos penetrarem”, afirma Amato-Lourenço. “Uma grande proporção dos microplásticos presentes no ar são fibras que vêm de roupas com tecidos sintéticos e de objetos cotidianos, como carpetes, cortinas, etc.”

O polipropileno foi o plástico predominante encontrado nos bulbos olfativos dos cadáveres. Um dos plásticos amplamente utilizados, o polipropileno, é geralmente considerado seguro para uso humano. No entanto, um estudo de abril de 2023 descobriu que microplásticos de polipropileno podem agravar o avanço do câncer de mama.

Reduzindo a exposição ao plástico

Existem medidas que podem ser tomadas para reduzir a exposição aos ftalatos e outros produtos químicos em alimentos e embalagens de alimentos, de acordo com o posicionamento da Academia Americana de Pediatria sobre aditivos alimentares e saúde infantil.

“Uma delas é reduzir nossa pegada plástica usando recipientes de aço inoxidável e vidro, sempre que possível”, diz Leonardo Trasande, diretor de pediatria ambiental no NYU Langone Health, em uma entrevista anterior à CNN Internacional.

“Evite aquecer alimentos ou bebidas em plástico, incluindo fórmula infantil e leite materno bombeado, e não coloque plásticos na lava-louças, pois o calor pode causar a liberação de substâncias químicas”, afirma Trasande, que também é o principal autor da declaração da AAP.

“Verifique o código de reciclagem no fundo dos produtos para identificar o tipo de plástico e evite plásticos com códigos de reciclagem 3, que geralmente contêm ftalatos”, acrescenta.

Os ftalatos, conhecidos como “químicos onipresentes” devido à sua abundância, são produtos químicos usados na fabricação que são conhecidos por serem disruptores hormonais.

Reduza o uso de plásticos descartáveis, sugere o Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, um grupo de defesa ambiental. Outras sugestões incluem levar sacolas reutilizáveis ao supermercado. Invista em uma bolsa de tecido com zíper e peça à lavanderia para devolver suas roupas nela, em vez daquelas folhas finas de plástico. Leve uma caneca de viagem para a cafeteria e talheres para o trabalho, reduzindo o uso de copos e utensílios de plástico.

Estudo: 0,5% dos cérebros humanos já podem ser microplásticos

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