O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve o diagnóstico da reunião anterior de que o balanço de riscos para a inflação está desequilibrado para cima, mas projetou que o IPCA se manterá acima da meta por mais tempo que o estimado anteriormente. Assim, decidiu aumentar a dose do remédio e acelerar o ritmo de alta da Selic para 0,50 ponto nesta quarta-feira (6), para 11,25% ao ano. Alguns economistas já enxergam a possibilidade de um ajuste mais forte à frente, seja no ritmo de alta, seja no tamanho do ciclo.
Na leitura de Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, o BC reconheceu que o cenário está muito mais complicado, destacando que o horizonte relevante foi empurrado para o segundo trimestre de 2026 e com a previsão de inflação indo a 3,6% (ante 3,5% anteriormente). Isso com uma meta de 3%.
Ele cita ainda a assimetria de riscos de inflação ocorrendo tanto no índice cheio quanto nos núcleos acima da meta e a menção pelo BC do “prêmio fiscal”, que bate na taxa de câmbio, com mais efeito inflacionário.
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Sobre a magnitude do ciclo e o ritmo que o BC deve imprimir no atual ciclo, Gala disse que os recados são de que, se a autoridade precisar, vai acelerar o ritmo desse meio ponto para 0,75 p.p.
“E o tamanho do tamanho total do ciclo também está em aberto. Até pouco tempo atrás a gente discutia a taxa terminal para baixo se era 10,0%, 10,25% ou 10,5%. Agora, a gente começou a discutir a taxa terminal para cima, se é 12,5% ou 13%.”
O economista alerta que, dependendo se câmbio se voltar se houver uma apreciação do real e se o arcabouço fiscal for realmente cumprido, ainda é possível imaginar uma Selic na casa dos 12%. “Mas o cenário está delicado. (…)Eles mencionam que a desancoragem por período prolongado é um risco de alta para o IPCA num cenário de hiato do produto bem fechado. Ou seja, economia aquecida com pouca ociosidade e desemprego muito baixo.”
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Mesmo com esses alertas, o cenário projetado pelo Master é que a Copom deve manter o ritmo de alta de 0,50 p.p. na reunião de dezembro, com a Selic fechando o ano em 11,75%.
Ciclo estendido?
A XP, no entanto, está considerando que o BC deve optar por manter o ritmo de 0,50 p.p., mas estender o ciclo. “A gente revisou nosso cenário de Selic, que era de 12% em janeiro, para 13,25% em maio”, revelou o economista Alexandre Maluf, economista da XP, em live no canal do Infomoney no Youtube.
Isso significaria ajustes sucessivos de 0,50 p.p. até maio, com o Copom esperando nesse patamar até as duas últimas reuniões de 2025, quando haveria espaço para cortes, levando a Selic para 12,25% em dezembro do ano que vem. A avaliação é que essa estratégia poderia assegurar um processo de desinflação menos custoso.
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Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, também leu no trecho do comunicado do Copom que cita o ritmo e a magnitude dos ajustes futuros da taxa de juros sendo ditados pelo compromisso com a convergência da inflação à meta, levando em consideração que a desancoragem das expectativas tem aumentado recentemente, deixa em aberto a possibilidade de uma aceleração para 0,75% à frente.
Mas ele diz não acreditar que isso seja o mais provável, embora o BC tenha citado que a inflação e as medidas subjacentes estão acima da meta e que o cenário de riscos segue assimétrico para cima, cenário que exige uma política monetária ainda mais contracionista.
A Nova Futura vê a Selic em 11,75% no final deste ano e do próximo, mas com a taxa subindo para 12,50% até março de 2025 e iniciando uma tendência de queda depois.
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“Ajustes futuros”
Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, ao usar a expressão “ajustes futuros”, o Copom sugere que ainda espera mais de uma alta nesse ciclo, embora não tenha se comprometido com o ritmo e nem com a magnitude total do aperto.
“De fato, o cenário de incerteza pode evoluir tanto para uma melhora na expectativa de inflação, quanto para uma nova deterioração. Um pacote de medidas de ajuste fiscal mais robusto pode resultar em uma retomada, ainda que parcial, da credibilidade da política fiscal, reduzindo o prêmio de risco no câmbio, além de retirar pressão da demanda interna, o que resultaria em uma desaceleração mais rápida da inflação nos próximos meses”, comenta.
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Por outro lado, ele alerta que, caso o gasto público tenha nova expansão em 2025, a inflação pode ter nova alta, tanto pela via de repasse cambial como pela demanda interna aquecida.
O cenário base para o Inter ainda é de uma alta de 50 bps, mesmo com a expectativa de desaceleração do IPCA em novembro, com a redução da tarifa elétrica, e novo corte esperado de 25 bps pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
“Para janeiro, no entanto, ainda vemos uma indefinição e podemos ter um ajuste menor caso o pacote de medidas fiscais seja bem recebido pelo mercado. Apesar de pouca novidade no comunicado, é uma decisão bem ‘hawkish’ (dura) elevar o juro para 11,25% considerando uma projeção de inflação de 3,6% no horizonte relevante da política monetária. O patamar de juro real está bastante restritivo considerando o pequeno desvio para a meta.”
Natalie Victal, economista chefe da SulAmérica Investimentos, lembra que a grande dúvida residia exatamente na sinalização quanto aos passos futuros de política monetária e quanto à Selic terminal.
“Quanto a esses pontos, eles mantiveram a dependência dos dados em linha com o que era esperado por nós. A gente achava que era importante o BC manter essa dependência dos dados por causa da grande incerteza do cenário com toda a questão relacionada à eleição dos Estados Unidos e a incerteza em torno do pacote fiscal”, explica.
“Temos visto os ativos brasileiros bem estressados, com bastante prêmio de risco, e uma eventual percepção de leniência com a inflação por parte do Banco Central poderia aumentar ainda mais esse prêmio de risco”, completa.
A SulAmérica aposta em mais duas altas de 0,50%, em dezembro e janeiro, e uma alta final de 0,25%, em março de 2025, com a Selic atingindo 12,5% e se mantendo neste patamar ao longo de todo 2025.
Na opinião de Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital, o tom do comunicado da reunião foi bem neutro, exatamente na mesma linha da anterior. “Eles justificam que o cenário externo é desafiador para emergentes, a atividade econômica do país está resiliente, o mercado de trabalho robusto, e a inflação corrente está acima do teto da meta, o que mostra ali uma preocupação com a desancoragem. Continua sinalizando, na minha visão, que eles estão analisando muito de perto a questão fiscal para a tomada de decisão”, afirma.
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