O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Gomes, disse nesta sexta, 25, que será necessário algum tipo de “choque fiscal” de longo prazo para mudar as expectativas de inflação de forma substancial. Em sua avaliação, a desaceleração esperada para os gastos públicos no segundo semestre não deve se refletir nessas projeções.

“Você precisa de algo mais duradouro para impactar essas expectativas de inflação”, disse Gomes, em evento do Bank of America (BofA), em Washington, Estados Unidos. “Um país que assegura aos investidores sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal e sobre a possibilidade e convergência da dívida pública, isso vai impactar mais diretamente as expectativas.”

Gomes mencionou a incerteza sobre a política fiscal futura como um dos pontos que explicam a atual desancoragem das expectativas de inflação. Citou, também, outros pontos, como a incerteza em torno da inflação corrente, em meio a choques de oferta nos preços de energia e alimentos, além de mudanças no ciclo do gado, que tem pressionado os preços de proteínas. “A depreciação da taxa de câmbio também coloca uma pressão em comercializáveis, então talvez essa seja a razão pela qual os preços industriais não estejam mais ajudando tanto quanto no passado.”

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FMI vê desafio fiscal

O diretor do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo Valdés, também ressaltou ontem que há um “desafio difícil” para a consolidação das contas públicas no Brasil, e reforçou a sua importância para a estabilização da dívida pública do País. “É um desafio difícil, e muitas das despesas são muito obrigatórias. Então, politicamente, é mais difícil”, avaliou Valdés.

Ele reforçou a recomendação do Fundo sobre a importância de o País atuar nos mecanismos de indexação do lado das despesas. “Entendemos que eles estão fazendo isso, nós recomendamos isso há algum tempo, e isso deve facilitar.”

Valdés destacou ainda a importância da consolidação fiscal em conjunto com a política monetária. Essa combinação pode atenuar os efeitos em termos de crescimento. Primeiro, reduz o prêmio de risco e, depois, permite que os juros sejam menores.

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O FMI estima que a dívida pública do Brasil como proporção do PIB tenha chegado a 83,9% no fim de 2022, último ano do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e vá a 94,7% em 2026, último ano da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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