A Polícia Federal indiciou, na última quinta-feira (21), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado no Brasil, após o resultado da eleição presidencial que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2022.

De acordo com a PF, o golpe teria sido organizado, majoritariamente, por militares de alta patente, conhecidos como “kids pretos”.

Veja o que embasou a decisão

“Copa 22”

Trocas de mensagens, obtidas pela Polícia Federal no âmbito da operação – que ficou nomeada como Contragolpe -, revelam que os investigados criaram o grupo chamado “Copa 22”, em um aplicativo, para se comunicar.

Os integrantes também utilizavam codinomes na conversa, de forma a não revelar a real identidade.

A PF também identificou um documento protegido por senha, intitulado com mesmo nome do grupo. O arquivo, recebido por Mauro Cid, continha uma estimativa de gastos para subsidiar as ações clandestinas, que seriam executadas durante os meses de novembro e dezembro de 2022.

“Punhal Verde e Amarelo”

De acordo com a PF, o plano de golpe envolvia também matar Lula, presidente recém-eleito, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.

O planejamento operacional da organização era denominado como “Fox_2017.docx” e depois alterado para “Punhal Verde e Amarelo”. Os assassinatos deveriam ocorrer em 15 de dezembro de 2022, três dias após a diplomação do petista no TSE.

 

Monitoramento de Moraes

Em 15 de dezembro, a ação clandestina “Copa 2022” é colocada em prática com o objetivo de prender/executar Alexandre de Moraes em Brasília. Os militares utilizaram seis telefones celulares com chips da operadora TIM, habilitados em nomes de terceiros, mas a operação não dá certo e o grupo decide “abortar” a missão.

No dia seguinte, Mauro Cid recebe, de Marcelo Câmara, ex-assessor do ex-presidente Bolsonaro, uma mensagem com informações sobre o itinerário do ministro Moraes.

Gabinete Institucional de Gestão de Crise

O grupo pretendia aplicar o golpe, por meio da instalação de um “Gabinete Institucional da Gestão da Crise”, que seria comandado pelos generais Augusto Heleno e Braga Netto.

O primeiro chefiava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Já Braga Netto ocupou os cargos de ministro da Defesa e da Casa Civil, além de ter sido o vice na chapa com o então candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), na eleição presidencial de 2022.

O intuito do gabinete, segundo mostra a investigação, era o de “estabelecer diretrizes para gerenciamento da crise institucional” após o golpe.

Entre os integrantes, a maioria seria de militares. Dos civis, havia a pretensão de que o então assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, ocupasse a função de “relações institucionais”, conforme minuta obtida pela PF.

Envolvimento de Bolsonaro

Ao longo da decisão que embasou a operação da Polícia Federal, o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro é citado algumas vezes.

Inclusive o documento “Fox_2017.docx” foi elaborado pelo ex-assessor de Bolsonaro.

A PF identificou pelo menos dois momentos em que Mario Fernandes – autor do documento – e o ex-presidente estiveram no mesmo ambiente, no período em que, de acordo com as investigações, era realizado o planejamento do golpe.

O primeiro deles ocorreu no Palácio do Planalto, em 6 de dezembro de 2022, justamente quando o arquivo foi impresso.

O segundo momento foi apenas dois dias depois, em 8 de dezembro de 2022, quando o general foi ao Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente (na época, Jair Bolsonaro), onde permaneceu por 40 minutos.

De acordo com a PF, nessa mesma data, Fernandes indica ter conversado com Bolsonaro.

Ainda neste mesmo dia, às 22h56, Mario Fernandes encaminhou duas mensagens para Mauro Cid. Na conversa, ele diz que o ex-presidente teria dito que “qualquer ação” poderia ocorrer até o dia 31 de dezembro.

A investigação ainda aponta que Bolsonaro teria realizado uma análise e também feito alterações na minuta do golpe, além de ter realizado uma reunião com o general Estevam Cals Theóphilo, em 9 de dezembro daquele mesmo ano, “com a finalidade de consumar o referido golpe“.

Indiciados

Além de Bolsonaro, a PF pediu o indiciamento de 36 pessoas. Dentre os nomes estão os ex-ministros Walter Braga Netto e Augusto Heleno, além de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, sigla do ex-presidente da República.

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