A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, no final de novembro, uma nova indicação para o durvalumabe, uma imunoterapia usada para tratamento de diferentes cânceres. Agora, o medicamento pode ser usado para um tipo agressivo de câncer de pulmão, com potencial de reduzir em até 27% o risco de morte de pacientes após o tratamento com quimio e radioterapia.
A nova indicação é voltada para pacientes com câncer de pulmão de pequenas células com estágio limitado, ou seja, que continua localizado no órgão e não espalhou para outras regiões do corpo (não sofreu metástase). A aprovação acontece em um cenário em que pacientes com esse tipo de tumor não tinham novas opções de tratamento há 20 anos.
O câncer de pulmão de pequenas células é o subtipo mais agressivo da doença e possui rápida evolução. Esse tipo de tumor possui prognóstico ruim, com apenas 15% a 30% dos pacientes vivos após cinco anos do diagnóstico.
“Esse é um tipo de tumor muito associado a pacientes que fumaram por bastante tempo e que têm uma idade avançada”, explica Guilherme Harada, coordenador da Pesquisa Clínica em Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, à CNN.
“Por muitos anos, não houve muito avanço [no tratamento] nesse tipo de câncer limitado, pois ele tem a característica de ser um tumor mais agressivo que responde pior às terapias que já temos. Então, por muito tempo não conseguimos avançar até a recente aprovação do durvalumabe neste cenário”, afirma.
Imunoterapia aumenta a sobrevida de pacientes
A aprovação da Anvisa para a nova indicação do durvalumabe foi baseada nos resultados do estudo ADRIATIC de fase 3, que avaliou a segurança e eficácia do medicamento em 730 pacientes com câncer de pulmão de pequenas células estágio limitado.
Os pacientes foram randomizados (divididos de forma aleatória) para receber uma dose fixa de 1.500 mg de durvalumabe com ou sem tremelimumabe 75 mg a cada quatro semanas por até quatro doses cada, seguido por durvalumabe a cada quatro semanas por até 24 meses. O estudo avaliou essas terapias em comparação com o placebo no tratamento.
O trabalho mostrou que 57% dos pacientes tratados com durvalumabe estavam vivos em três anos de acompanhamento.
“A aprovação de durvalumabe para câncer de pulmão de pequenas células estágio limitado representa um marco no tratamento desses pacientes com prognóstico desafiador, ao trazer pela primeira vez a imunoterapia com significativo ganho de sobrevida”, afirma Karina Fontão, diretora médica executiva da AstraZeneca Brasil.
Como a imunoterapia funciona?
O durvalumabe é uma imunoterapia que já possui aprovação para tratamento de outros tipos de câncer, como o câncer de pulmão de pequenas células extenso (que já sofreu metástase), de células não pequenas, para alguns cânceres gastrointestinais, entre outras indicações, conforme aponta Fontão.
“A imunoterapia bloqueia uma parte do nosso organismo que faz com que o nosso sistema imunológico não reconheça o câncer. O medicamento bloqueia esse não reconhecimento e o nosso corpo passa a identificar o câncer. Com isso, o próprio sistema imunológico começa a combater o tumor”, explica a especialista.
Para um tumor se desenvolver, ele cria mecanismos para “escapar” do sistema imunológico, e é dessa forma que o organismo não consegue identificar o câncer, fazendo com que ele evolua, conforme explica Harada. “A imunoterapia, como o durvalumabe, permite que o sistema de defesa volte a identificar o tumor. É como se a terapia retirasse um escudo que protege o tumor do sistema imunológico”, ilustra o especialista.
“A aprovação de durvalumabe para câncer de pulmão de pequenas células estágio limitado pode transformar o cenário desafiador da doença. Ao aumentar significativamente as chances de sobrevida e reduzir as taxas de mortalidade de pacientes, a terapia passa a ser o novo padrão de tratamento para esse perfil específico de paciente, representando um marco e avanço em um cenário que há anos não tinha novos recursos terapêuticos”, avalia Harada.
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